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29 Junho 2015

Piezoelectricidade, um novo horizonte para aplicações de grafeno

Piezoelectricidade, um novo horizonte para aplicações de grafeno

Uma equipa de investigadores do CICECO, Universidade de Aveiro (UA) acaba de divulgar que o grafeno, quando combinado com a sílica, tem propriedades piezoeléctricas. Este é um material que poderá vir a revolucionar a indústria tecnológica do futuro devido à sua resistência, leveza, transparência e flexibilidade, além de ser um ótimo condutor de eletricidade. A descoberta da piezoelectricidade do grafeno, ou seja, a sua capacidade de gerar energia elétrica através da simples compressão do material, abre as portas a que, por exemplo, telefones móveis de nova geração e circuitos micro-ondas possam operar a uma velocidade e qualidade sem precedentes. A descoberta foi publicada a 25 de junho na Nature Communications, uma das mais importantes revistas científicas do mundo.

“Prevê-se que esta descoberta irá levar a uma nova era na utilização do grafeno em dispositivos microeletromecânicos”, antevê Andrei Kholkin. O cientista do CICECO e do Departamento de Física (e antes do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica), e líder da equipa de investigação, explica que, “uma vez que o grafeno é muito fino e flexível, antecipam-se inúmeras vantagens face a materiais piezoeléctricos tradicionais”.

O investigador aponta, como exemplo, que a partir desta descoberta “a frequência da ressonância piezoeléctrica pode ser levada para a gama dos gigahertzs com um factor de qualidade sem precedentes”. Andrei Kholkin não tem dúvidas: “Isto pode ser de grande utilidade para telefones móveis de nova geração ou circuitos micro-ondas”.

O grafeno, cujo estudo valeu em 2010 o Prémio Nobel da Física a Andre Geim e Konstantin Novoselov, cientistas da Universidade de Manchester, Inglaterra, é um material feito inteiramente de átomos de carbono que estão arranjados numa rede hexagonal e dispostos num plano.
“Este material tem propriedades excepcionais”, esclarece Andrei Kholkin salientando “a capacidade de conduzir a electricidade e o calor mas oferecendo uma resistência mecânica 100 vezes superior ao aço em relação ao qual é mais leve”.

Um futuro feito de grafeno

O grafeno já tem muitas aplicações na indústria de células solares, em dispositivos de cristais líquidos, em sensores moleculares e no fabrico de protótipos de transístores de dimensões à escala nano. “Mas até agora ainda não lhe tinham sido atribuído propriedades piezoeléctricas, apesar de numerosas tentativas por parte da comunidade científica internacional, procurando quebrar a sua simetria de inversão através da introdução de defeitos estruturais”, explica o lider da equipa de investigação que reportou “um forte efeito piezoeléctrico em monocamadas de grafeno depositadas em óxido de silício”.

A medição da capacidade piezoeléctrica no grafeno foi realizada na UA onde, explica Andrei Kholkin, “um método de elevada sensibilidade chamado Microscopia de Força Piezoeléctrica foi implementado e desenvolvido”.

O trabalho publicado na Nature Communications em colaboração com a Universidade de Campinas (Brasil) e a Universidade Federal dos Urais (Russia) explica o forte efeito piezoeléctrico pelo alinhamento das ligações entre os átomos de carbono e de oxigénio na interface do grafeno com o óxido de silício. “Estas ligações tornam-se polares e a sua contracção ou alongamento sobre o efeito de campo eléctrico resulta num enorme efeito piezoeléctrico, que é aproximadamente duas vezes superior ao dos materiais piezoeléctricos convencionais, tais como o PZT ou titanato de bário”, aponta Andrei Kholkin.

Para além de Andrei Kholkin, a equipa de investigação da UA que deu ao mundo uma nova propriedade do grafeno inclui os cientistas Gonçalo Cunha, Sergey Luchkin e Konstantin Romanyuk. O trabalho realizado no CICECO foi financiado pelo projecto europeu “Nanomotion”, coordenado pela UA e unindo sete diferentes academias, institutos de investigação e empresas de Portugal, Alemanha, Reino Unido e Irlanda.

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