Samuel Venância de Souza Freitas nasceu no Timor-Leste e esteve na Universidade de Aveiro cursando licenciatura, mestrado e doutorado (onde também integrou o CICECO). Atualmente, ocupa o cargo de Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos e Garantia de Qualidade na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), a única universidade pública do país.
De Timor a Aveiro: O Início da Minha Jornada
Retornei a Timor-Leste em 2013, após doze anos de estudo na Universidade de Aveiro, onde concluí a licenciatura, o mestrado e o doutorado. Ao voltar, passei alguns meses no Ministério da Educação e na Universidade Nacional, que ainda estava em fase inicial de desenvolvimento. Logo depois, comecei a trabalhar como assessor e professor assistente — uma colaboração que surgiu a partir da minha formação em Ciências Exatas.
De 2015 a 2021, fui Decano da Faculdade de Ciências Exatas e, desde 2021, sou Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos e Garantia de Qualidade. Também continuo a lecionar Química, porque o ensino permanece no centro da minha identidade profissional.
Nossas universidades estão em evolução — novas faculdades estão sendo criadas e agora temos institutos superiores e escolas politécnicas. Há muito a construir e melhorar quando comparado com o panorama global da educação. Acredito fortemente que aqueles que estudam no exterior e retornam trazem uma contribuição crucial para o progresso nacional.
Durante meus doze anos em Aveiro, aprendi profundamente — não apenas como estudante, mas observando como uma universidade funciona. Como doutorando no grupo PATH (Termodinâmica, Modelação e Produção de Materiais), sob orientação do Professor João A. P. Coutinho, aprendi como a pesquisa pode ter um impacto real na sociedade. O que recebi lá não foi apenas conhecimento científico, mas também a experiência de pertencer a uma instituição de qualidade — os relacionamentos com professores, colegas e profissionais moldaram-me profundamente.
Essas experiências me deram a base para coordenar e liderar a Faculdade de Ciências Exatas, criada em parceria com a Universidade de Aveiro. Quando penso nos primeiros dias, lembro que não havia Faculdade de Matemática ou Ciências Exatas em Timor-Leste — construímos do zero, inspirados no que aprendi em Aveiro. Tudo o que ganhei — das pessoas, da instituição e especialmente do CICECO — preparou-me para ter sucesso na UNTL.
Embora atualmente eu não esteja diretamente envolvido em pesquisa, já que nosso sistema ainda está se desenvolvendo, continuo apoiando projetos de pesquisa estudantil e teses finais. A cultura de pesquisa em Timor-Leste ainda é jovem, mas estou comprometido em ajudá-la a crescer.
Tornando-me Pesquisador no CICECO
Entrei no CICECO em 2009, quando iniciei meu doutorado. Tive a sorte de receber apoio da Bolsa Oriente e posteriormente da FCT. Minha pesquisa focou em modelação termodinâmica e produção de biodiesel, explorando as propriedades do material e como otimizar seu desempenho.
O que aprendi como pesquisador no CICECO, quis trazer de volta para Timor-Leste. A colaboração interdisciplinar, a autonomia dos pesquisadores e a troca de conhecimento foram experiências que me transformaram. Percebi que a excelência em pesquisa vem do trabalho em equipe, da diversidade e da busca compartilhada pelo conhecimento.
Também tive a oportunidade de apresentar meu trabalho no exterior — em Búzios, Brasil, por exemplo — onde recebi reconhecimento e prêmios. Essas experiências internacionais fortaleceram minha confiança e minha visão sobre o que a ciência e a educação poderiam se tornar em meu país.
No CICECO, experimentei o que representa um verdadeiro centro de investigação de excelência: colaboração multicultural, espírito de inovação e supervisores com autoridade científica e acadêmica. Prometi a mim mesmo que um dia traria esse espírito para Timor-Leste. Embora ainda não seja fácil estabelecer estruturas semelhantes, continuo trabalhando nesse objetivo por meio da governança, avaliação e projetos nacionais.
Hoje, vejo-me como embaixador da Universidade de Aveiro e do CICECO em Timor-Leste. Em 2017, alguns materiais foram enviados pelo CICECO para apoiar nossas iniciativas, e essa ligação institucional permanece aberta. O que o CICECO me deu não foi apenas conhecimento — foi um resultado para a vida. Graças a essa experiência, pude servir meu país como sonhei quando ainda era estudante.
Vida e Crescimento em Aveiro
Tenho muitas lembranças queridas de Aveiro. Cheguei a Portugal como parte de um programa de cooperação, completando o 12º ano na Escola Secundária Mário Sacramento, em um ano preparatório antes da universidade. Essa experiência me ajudou a integrar-me facilmente à vida acadêmica portuguesa.
Concluí todos os meus graus — licenciatura, mestrado e doutorado — em Aveiro. A cidade e a universidade tornaram-se meu segundo lar. Adaptei-me rapidamente, aprendi a falar português fluentemente e construí amizades com pessoas de todo o mundo — portugueses, brasileiros e muitas outras nacionalidades.
Alguns dos meus momentos mais felizes foram simples: jantares, encontros e o senso de comunidade entre estudantes internacionais. Concluir meus estudos com sucesso e honrar minha bolsa foram marcos de orgulho pessoal. Até hoje, quando visito Portugal, sempre passo por Aveiro. Ainda carrego um cordão da Universidade de Aveiro nas minhas chaves — um pequeno, mas significativo lembrete de onde cresci acadêmica e pessoalmente.
Cheguei a Aveiro com dezenove anos e saí com trinta e um — cresci lá. O CICECO e Aveiro moldaram quem sou.
Lições que Moldaram Minha Liderança
Meus anos no CICECO fizeram-me quem sou — tanto profissional quanto pessoalmente. Cresci de um jovem estudante para um homem com visão ampla e propósito mais profundo. As experiências, o reconhecimento e a exposição internacional marcaram meu caminho.
O CICECO me deu mais do que um diploma — deu-me reputação. Quando voltei a Timor-Leste, fui visto não como uma dúvida, mas como um profissional treinado na excelência. Devo isso aos meus orientadores, ao Professor João Coutinho e a todos do CICECO que acreditaram em mim e lutaram pelo meu sucesso.
Essa confiança e educação permitiram-me tornar não apenas um líder acadêmico, mas também alguém capaz de ajudar a moldar a política de ensino superior em meu país. Carrego esse legado com profunda gratidão.
Uma Mensagem para a Próxima Geração
O CICECO é uma célula que forma cientistas — pessoas entram como estudantes e saem como pesquisadores. Sempre digo aos jovens acadêmicos: dediquem-se com humildade. Não foquem apenas no resultado, porque o CICECO ensina sobre o outcome — como a ciência transforma quem você é e o que você pode trazer para o mundo.
Essa foi a minha experiência. Mesmo não liderando ainda um grupo de pesquisa aqui, tornei-me gestor científico e líder preparado para fomentar ecossistemas de pesquisa em Timor-Leste.
Aproveitem cada experiência — o ambiente multicultural, os eventos, os intercâmbios. Tenham clareza sobre quem querem ser e adaptem-se ao que o CICECO oferece, porque ele realmente tem tudo.
Como costumo dizer: O CICECO não forma apenas cientistas — forma visionários.