Catarina Ralheta

Catarina Ralheta iniciou o doutoramento em 2009 no Departamento de Química da Universidade de Aveiro, no âmbito do programa de colaboração académica-industrial IDPOR. Hoje mora nos EUA, e integra o grupo global Synthomer, onde tem o cargo de liderança como responsável de I&D da divisão de Coatings and Construction Solutions num dos centros técnicos da empresa.

Experiência no CICECO e Vida em Aveiro

Os meus orientadores na Universidade foram inicialmente o Professor Alessandro Gandini, mais tarde substituído pela Professora Ana Barros, e, na empresa, o Doutor Jorge Moniz (Synthomer).
Defendi a minha tese (Novas Dispersões Aquosas com Morfologia Controlada para Revestimentos) em janeiro de 2014, centrada no desenvolvimento de polímeros sustentáveis para revestimentos de alto desempenho — um projeto fortemente aplicado, realizado em parceria com a empresa onde então trabalhava (Resiquímica), através de uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) associada ao doutoramento em ambiente não académico.

Embora estivesse sediada em Lisboa, viajava todas as semanas para Aveiro para frequentar as unidades curriculares pré-doutorais. Recordo em particular a unidade de Empreendedorismo e Inovação — deixou-me uma impressão duradoura. No CICECO, encontrei um ambiente científico dinâmico, marcado por forte interdisciplinaridade e por uma profunda ligação entre investigação e aplicação prática — algo que me acompanha ao longo de toda a carreira.
Mantenho uma enorme gratidão para com o CICECO e os meus orientadores. Foi graças à confiança e ao apoio recebidos — em especial da Professora Ana Barros e do Doutor Jorge Moniz, durante a minha gravidez e após o nascimento do meu filho — que consegui concluir o doutoramento. Foi uma fase de vida muito exigente, mas que moldou tudo o que se seguiu.

Um Doutoramento que Abriu Portas no Mundo

Após a defesa da tese, continuei a trabalhar na Resiquímica, onde já liderava o laboratório de investigação. Em 2018, a empresa foi adquirida pela multinacional Omnova e, em 2020, passou a integrar o grupo global Synthomer. Em 2023, mudei-me para os Estados Unidos, assumindo um cargo de liderança como responsável de I&D da divisão de Coatings and Construction Solutions num dos centros técnicos da empresa.
Esta oportunidade foi possível graças ao meu doutoramento — que era, de facto, um requisito essencial. Por vezes posso ter subestimado o valor desse percurso, mas hoje reconheço claramente o seu impacto: abriu portas, reforçou a minha credibilidade como cientista e deu-me as ferramentas para inovar com confiança.

Da Investigação às Soluções Práticas

Durante o doutoramento, desenvolvi vários produtos que chegaram ao mercado — quatro versões foram testadas e uma delas teve particular sucesso, continuando a ser comercializada atualmente. Essa experiência prática, desde a síntese de polímeros até à formulação de tintas, proporcionou-me uma visão holística do processo de inovação.
Sempre acreditei que os investigadores devem, sempre que possível, falar diretamente com os clientes. Somos nós que melhor conhecemos o produto e podemos ajudar a identificar a solução adequada às suas necessidades. Hoje, nos EUA, ainda aplico a mesma filosofia, liderando uma equipe de seis pessoas e supervisionando diversas áreas — de tintas arquitetônicas a soluções para aplicações médicas, aglutinantes de baterias, têxteis para o lar, etc., sempre com foco na sustentabilidade.

Transformar Ideias em Impacto

Agora, a viver e trabalhar nos EUA, percebo como a mentalidade pode ser diferente: existe maior abertura para concretizar ideias, assumir riscos e abraçar a inovação. O meu objetivo é continuar a promover e a introduzir novas tecnologias, replicar boas práticas e reforçar o laboratório que ajudei a construir aqui.
O meu percurso foi sempre impulsionado pela paixão e pela resiliência. Como diz a canção do filme Flashdance que me inspira: “Take your passion and make it happen” (Transforma a tua paixão em realidade).