Seja curioso, faça perguntas, procure colaborações e não tenha medo de explorar caminhos fora da academia
Bruno Figueiredo, foi aluno da Universidade de Aveiro e do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, concluiu o seu doutoramento em Engenharia Química em 2016. O seu trabalho académico centrou-se em materiais microporosos para remoção seletiva de iões, servindo posteriormente de base à sua transição para o empreendedorismo tecnológico. Atualmente, como cofundador da Graphenest, reflete sobre o valor da investigação multidisciplinar, as aprendizagens durante o doutoramento e os desafios de transformar conhecimento científico em inovação industrial.
Experiência na UA e no CICECO
Iniciei o Mestrado Integrado em Engenharia Química em 2005 na Universidade de Aveiro, que concluí em 2010. Em abril de 2011, comecei o doutoramento em Engenharia Química no Departamento de Química da mesma universidade, no âmbito do CICECO. O meu trabalho foi supervisionado pelo Professor João Carlos Rocha e pelo Professor Carlos Manuel Silva. Defendi a tese em 2016, intitulada "Microporous materials for Cs+ sensing and selective removal from aqueous solutions".O tempo passado no CICECO foi, sem dúvida, uma experiência marcante e formativa. Estive rodeado por uma comunidade científica altamente qualificada, num ambiente multidisciplinar e internacional — desde síntese de materiais e tratamento de águas a modelação computacional e fotoluminescência. Isto permitiu-me crescer não apenas como investigador, mas também como profissional.
Na altura, reparei numa tendência dos grupos de investigação para trabalharem de forma muito independente — quase como se cada laboratório fosse a sua própria "ilha". Embora isso, por vezes, limitasse a colaboração, também me ensinou a importância de construir pontes de forma proativa entre equipas e de adotar uma postura colaborativa e aberta em contextos multidisciplinares.
Quanto a viver em Aveiro — foi, e continua a ser, uma experiência maravilhosa. É a minha cidade natal e oferece uma excelente qualidade de vida num ambiente acolhedor.
Doutoramento e Empreendedorismo Lado a Lado
Após terminar o doutoramento, optei por seguir um percurso fora da academia e enveredei pelo empreendedorismo tecnológico. Juntamente com dois outros fundadores, criei a Graphenest, uma empresa que atualmente se dedica ao desenvolvimento e comercialização de materiais à base de grafeno para aplicações avançadas — incluindo blindagem eletromagnética na mobilidade elétrica e na eletrónica.Esta trajetória permitiu-me aplicar grande parte do meu conhecimento científico, ao mesmo tempo que desenvolvia novas competências em gestão, estratégia e inovação tecnológica em contexto empresarial.
Pode soar a cliché, mas o doutoramento foi essencial para consolidar conhecimentos. Mais do que isso, ajudou-me a desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos, pensamento crítico, resiliência e autonomia. A experiência prática no laboratório, o contacto com técnicas analíticas avançadas e a escrita científica foram igualmente competências determinantes, que continuam a desempenhar um papel crucial na I&D da empresa e na forma como comunico com parceiros e stakeholders na Graphenest.
Colaboração para Além dos Anos de Investigação
Atualmente, não tenho qualquer relação formal ou contratual com o CICECO, mas mantenho boas ligações pessoais com muitos dos investigadores. Nos primeiros tempos da Graphenest, colaborámos com o CICECO, sobretudo quando necessitávamos de acesso rápido a equipamentos avançados de caracterização de materiais.Manter uma ligação forte com a academia é essencial para garantir uma base científica sólida e fomentar a inovação — e a Universidade de Aveiro tem sido um excelente parceiro nesse sentido.
Aos atuais investigadores, deixo uma mensagem: aproveitem ao máximo o vosso tempo no CICECO. Sejam curiosos, façam perguntas, procurem colaborações e não tenham receio de explorar percursos fora da academia. O networking continua a ser largamente subvalorizado.
O doutoramento não é um fim em si mesmo — é um trampolim para muitas oportunidades de carreira, tanto dentro como fora da investigação científica.
Seja curioso, faça perguntas, procure colaborações e não tenha medo de explorar caminhos fora da academia