
O investigador do CICECO, e especialista em materiais sustentáveis, Rui Novais, foi convidado a participar recentemente num artigo do jornal norte-americano The Washington Post sobre a temática da cortiça como material sustentável e inovador, com novas utilizações por parte da indústria.
A colaboração de Rui Novais surgiu de um contacto da jornalista autora do artigo, Marta Vidal, em trabalho para o jornal americano, depois desta ter lido um dos vários artigos escritos pelo também investigador no Aveiro Institute of Materials (CICECO) sobre cortiça. Decidiu, por esse motivo, contactá-lo e solicitar a sua colaboração enquanto especialista nesta área.
Na entrevista que deu, Rui Novais abordou “as características da cortiça, as suas propriedades e aplicações (presentes e futuras), enumerando as vantagens e as limitações deste material por comparação com materiais alternativos”. A cortiça é um material “excecional, é natural, biodegradável, e a sua extração (descortiçamento) não só não danifica o sobreiro, que continua a sequestrar dióxido de carbono (atuando como carbon sink) durante mais de 200 anos, como também promove e aumenta a absorção de dióxido de carbono pelo sobreiro durante o processo de regeneração da cortiça”, explica.
Os montados onde se encontram os sobreiros, de onde é retirada a cortiça, “são também extraordinariamente relevantes para a preservação da biodiversidade. Por estes motivos a cortiça é um material intrinsecamente sustentável, considerando o pilar ambiental”.
“Este material apresenta uma microestrutura altamente porosa, constituída por células fechadas, que é responsável pela baixa densidade deste material, mas também pela sua baixa condutividade térmica e elevado coeficiente de absorção acústica. Estas propriedades possibilitam a utilização deste material em diversas aplicações, muito para além da sua utilização tradicional como vedante”, frisa o investigador.
Assim, uma das possíveis utilizações da cortiça é atuar como material de isolamento térmico em detrimento ou alternativa às espumas poliméricas derivadas de combustíveis fósseis (p. ex. espumas de poliuretano, poliestireno expandido) que apresentam valores mais elevados de energia primária incorporada e de emissões de dióxido de carbono associadas. “Na Universidade de Aveiro procuramos desenvolver materiais multifuncionais para o setor da construção utilizando cortiça como agregado. Estes cimentos leves podem atuar como barreiras térmicas e acústicas, e simultaneamente como reguladores dos níveis de humidade dos edifícios”, esclarece Rui Novais.
A grande contrapartida ao uso massificado deste produto é a quantidade limitada de cortiça que se consegue extrair e os custos de produção desta matéria-prima, por comparação com os derivados de combustíveis fósseis. Ainda assim, “a crescente consciencialização relativamente à insustentabilidade de certos materiais e à sua incipiente reciclabilidade são fatores-chave e que podem potenciar a utilização de produtos de cortiça em aplicações de elevado valor acrescentado”, acrescenta.
Rui Novais é Professor Auxiliar no Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica e investigador no CICECO – Aveiro Institute of Materials da Universidade de Aveiro, desde abril de 2022. Obteve o seu Doutoramento em Ciência e Engenharia de Polímeros e Compósitos, em 2012, na Universidade do Minho, com o título: “Functionalized carbon nanotubes for polymer based nanocomposites”.
Em 2012 ingressou na UA como investigador de pós-doutoramento no desenvolvimento de cerâmicos convencionais e técnicos. Foi investigador FCT entre 2019 e até 2022, com o objetivo de desenvolver materiais ativados alcalinamente para aplicações de remediação ambiental.
A sua linha de investigação aborda as temáticas da sustentabilidade, economia circular e a valorização de resíduos. Atualmente encontra-se a participar num projeto que visa o desenvolvimento de estruturas leves para atenuação acústica.
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