
Conseguir, num só projeto, produzir combustíveis renováveis, usar um método limpo que faz uso da cortiça (renovável) e, para além disso, consumir dióxido de carbono, se não está lá, é chegar perto da quadratura do círculo. Foi tudo isso que se conseguiu Robert Pullar, Rui Novais e Ana Caetano no âmbito do projeto H2Cork, do CICECO e Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro (UA), em parceria com equipa do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e do PROcédés, Matériaux et Énergie Solaire (PROMES).
Tendo como objetivo a produção de combustíveis renováveis, mais concretamente, o hidrogénio, uma equipa de investigadores criou um material - ecocerâmicas de cério à base de cortiça – que foi utilizado como catalisador para a separação do dióxido de carbono utilizando apenas luz solar concentrada.
As ecocerâmicas apresentam uma estrutura alveolar que replica a estrutura da cortiça que serve, digamos, de molde. A cortiça é sujeita a pirólise, ou seja, decomposição através de alta temperatura e ausência de oxigénio, formando-se uma estrutura de carbono que é posteriormente infiltrada com uma solução cerâmica gerando, após um ciclo térmico, um catalisador cerâmico de óxido de cério (CeO2). Este material extremamente leve e poroso pode então ser utilizado como catalisador para a produção de combustíveis renováveis através da ação do sol (que promove a redução do cério a temperaturas próximas de 1400 ºC, só possível em equipamentos especiais, como o do PROMES). A posterior oxidação deste material, que pode ser obtida pela injeção de CO2, permite separar o CO2 em monóxido de carbono e oxigénio, os quais podem ser usados para a produção de combustíveis renováveis.
No caso da injeção com vapor de água, este método permite obter hidrogénio e oxigénio, sendo o hidrogénio, como se sabe, um combustível renovável. O estudo para a obtenção de hidrogénio está ainda a decorrer, depois do sucesso obtido no caso do dióxido de carbono já divulgado no Journal of of CO2 Utilization (edição de junho de 2018) - https://doi.org/10.1016/j.jcou.2018.06.015.
Robert Pullar, o coordenador do trabalho, assegura que o catalisador desenvolvido neste âmbito é duas vezes mais eficiente na separação de dióxido de carbono do que os substratos poliméricos não sustentáveis. Rui Novais, membro da equipa sublinha a sustentabilidade de todo o processo: uso de cortiça, um recurso renovável e natural, para obtenção de uma espécie de molde, as ecocerâmicas que funcionam como catalisador da reação, a fonte de energia que é renovável (sol) e, finalmente, a produção de um combustível renovável.
Artigos Relacionados
Usamos cookies para atividades de marketing e para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao clicar em “Aceitar Cookies” você concorda com nossa política de cookies. Leia sobre como usamos cookies clicando em "Política de Privacidade e Cookies".